Sobre o desapego, as mudanças e os tempos de cada um...
Eu quero compartilhar aqui uma experiência bem pessoal, tenho vivido um processo de mudança (diria que até bem lento, que é o meu ritmo normal pra tudo rs), como já falei outras vezes tudo começou com a minha insatisfação profissional lá em 2012, daí fui para as viagens que me fizeram ver o mundo com outros olhos e ao ver o mundo de outra maneira pude olhar pra mim mesma de outra maneira.
Comendo o pão que o diab... não pera rs. Na fronteira Colômbia - Equador no meu primeiro mochilão roots, que foi o início do fim.
Em 2013 quando fui morar no Equador, eu sofria de um lado pra outro, carregando horrores de coisas a cada mudança que tive que fazer, além de fazer minha mãe mandar coisas por correio (!!!) comprei outras mais e ainda ia ficando com o que os outros deixavam quando iam embora. Seis meses depois, quando tive que partir, não tinha como levar tudo e tive que desapegar.
Ainda assim, quando vi estava viajando pelo Peru com 4 volumes entre malas, mochilas e bolsas...Uma loucura. E o mais doido é que o momento mais feliz dessa viagem eu estava sentada na calçada com vários novos amigos cantando e rindo, nem sapato eu tava usando rs.
Bogotá, Colômbia. 2013
Comecei a me desapegar de várias coisas materiais e imateriais, tomei uma decisão nesses últimos meses e não pensava que teria tanto efeito na minha vida. Além de me livrar de muita coisa que estava acumulada e sem uso resolvi que não compraria nada que não fosse necessário, mas necessário de verdade, então comecei a perceber a quantidade de coisa inútil que eu comprava e muitas acabava nem usando.
Você deve estar pensando que não faz isso, mas se fizer essa pergunta para si mesmo antes de comprar qualquer coisa (desde as coisas mais simples no supermercado até um carro novo, por exemplo), vai ver que a resposta é diferente do que tinha imaginado. Eu preciso de um casaco novo? Provavelmente não. A moda, a mídia, as youtubers (rs) estão aí pra nos encher de coisas que não precisamos, nos deixando mais pobres e eles mais ricos.
Metade da minha bagagem insana que carreguei por 20 dias pelo Peru (e sim ainda fui comprando malas pelo caminho)
Quando eu falo que é um processo e que a gente tem que respeitar o tempo de cada um, é só pra dizer que toda transformação leva tempo, estou dando exemplos de situações que me fizeram ir mudando, como a vez que eu levei 15 blusas de verão pra Argentina e começou o frio, eu tive que usar roupas de outras pessoas por quase um mês. Eu quis levar tanta roupa de verão achando que iria precisar de uma ou de outra, que no fim nem tinha espaço para coisas que eram mais necessárias, como um blusão quente pra não morrer de frio.
Até hoje não sei de quem era esse blusão, mas muito agradecida rs
Com o tempo fui aprendendo a levar as roupas certas e não me preocupava em repeti-las. Mas aí, ano passado arrumando minha mochila para voltar pra casa, uma amiga me diz "Lou, você tem muita coisa, mas nada é roupa", e aquilo bastou pra ver quê tanta tranqueira eu ainda carregava, e percebi que a quantidade de cosméticos era absurda, ridícula mesmo. Quando cheguei em casa percebi que a coisa era ainda pior, eu tinha mania de comprar coisas que não usava, muitas das quais estavam vencidas e nem foram usadas. Por que eu tinha 3 desodorantes se, que eu saiba, tenho só dois sovacos? Rsrs Coitado do nosso planeta com essa quantidade de resíduo gerada por nós cada dia.
Depois desse choque, comecei a me desfazer de tudo, ia usando até acabar e comecei a pesquisar alternativas naturais pra tanta coisa química. Mais uma vez, um processo natural, que ainda estou passando. Eu que comecei isso tudo me preocupando "apenas" com uma construção mais ecológica acabei mudando vários aspectos da minha vida, no meu tempo, no meu ritmo. Falta muita coisa ainda nesse caminho, mas ainda chego lá.
Cabo Polônio, Uruguai, 2015.
No dicionário "desapegar" é "desprender-se, desinteressar-se" e nesse nosso meio cheio de "namastê" e "gratidão" é um termo muito utilizado ultimamente. Desapegar das coisa do passado, de antigas crenças e hábitos, de objetos supérfluos e de pessoas que já não nos fazem bem. Acho realmente válido, uma limpeza sempre é necessária de tempos em tempos, o que não podemos esquecer é que cada um tem seu próprio tempo. Tenho visto um exército de julgadores new-hippies e fico impressionada com a quantidade de gente evoluída que vai direto pro céu. Mas tudo bem, também não estou aqui pra julgar ninguém rs. Respeito e paciência com o caminho de cada um.